Nem mais um café.

18:22

Desta vez trago um texto diferente, mas não ainda assim carregado de sentimento. É uma parceria que fiz com a Nathalia do blog 48 Janeiros e espero que gostem. Convido vocês a visita-lá o blog dela é bem aconchegante.



Primeira parte | Nathalia Dutra

Pela primeira vez ao terminar a faculdade, caminhei tranquilamente pelos bairros da cidade que deixei. Já havia vindo visitar minha família algumas vezes, mas sempre na correria. Dessa vez, peguei um ônibus e fui buscar um pouco de nostalgia nas ruas de minha adolescência.
Peço um pão de queijo e um café numa padaria que costumava frequentar e me sento na última mesa, escondida em meu casaco de lã. Para minha surpresa - e agonia - fito alguém entrar pela porta de vidro; o cabelo mal arrumado, a blusa xadrez vermelha e azul que, muitas vezes, esteve em meu guarda-roupa, e aquela antiga pulseira que comprou em uma de nossas muitas viagens.
Foi a primeira vez que o vi desde que entrei para a faculdade. Devia fazer cerca de cinco anos desde que fiquei, em lágrimas, na calçada de casa enquanto ele cuspia um monte de argumentos na minha cara dizendo que não dava mais. Eu estava indo para longe seguir meus sonhos e ele não sairia daqui. Entendi que sentiríamos saudade, mas o amor deveria ser suficiente para nos manter aquecidos enquanto os braços do outro estavam longe. Mas não foi suficiente. Não para ele.
Fito meu café na mesa, a fim de não ver seus olhos castanhos. Mas, no ápice de minhasaudade curiosidade, levanto os olhos disfarçadamente, só para ver se ele ainda faz aquele bico ao assoprar o café antes de beber. Infeliz atitude a minha. No momento em que levanto os olhos, ele cruza com os meus e é incapaz de disfarçar o susto. Os lábios se abrem num sorriso gentil, como os de antigamente, e eu sorrio de volta, por educação.
Bebo rapidamente o resto de café na xícara, cruzo os braços para me proteger do frio e, quando ele tenta falar alguma coisa, murmuro um "bom dia" educado e saio pela porta de vidro.
Não posso permitir que, mais uma vez, ele me invada sem pedir permissão e more dentro de mim. Ah, não, isso não. O meu coração já foi ferido demais, hoje ele tem medo. Tem medo de deixar que qualquer um entre ligeiramente e faça o estrago que quiser. E eu o conheço bem. Ele chega assim, de mansinho, com esse sorriso de lado e de repente o estrago tá feito. Eu me rendo. Meu coração não aguenta mais a solidão e se agarra, independente do que eu tente fazer a respeito. Também me conheço a ponto de saber que o estrago de ouvir aquela voz seria muito maior em mim. Não fui dormir chorando por tanto tempo para me render só porque fitei aqueles olhos que antes me contemplavam apaixonados, aquela boca que costumava dizer palavras tão bonitas ou aquelas mãos que se agarravam às minhas e prometiam nunca mais soltá-las. Ah, não. Eu não posso permitir que meu coração se machuque assim novamente. Seria crueldade demais comigo mesma. Eu simplesmente não posso permitir.

Segunda parte | Thales Basso

Acordei sentindo que aquelas poucas horas de sono não foram o suficiente pra descansar meu corpo e minha mente. Andava cansado da correria do dia a dia no trabalho e inúmeros problemas para resolver. Como de costume minha mente viajou para longe por alguns segundos, para uma época na qual eu sabia que não viveria mais. Senti naquele momento uma imensa vontade de relembrar o gosto do café da padaria onde costumava ir. Todas as vezes em que me sentia cansado dos fardos era para lá que eu corria, a fim de relembrar um pouquinho do tempo que vivemos ali. E dessa vez não seria diferente. Lavei o rosto, me enfiei dentro de um jeans surrado, peguei minha blusa xadrez e parti com o coração nostálgico.
No caminho fui pensando nas tantas coisas vividas naquela padaria, nos cafés que tomamos juntos e imaginava se lá onde está agora você também tem uma padaria preferida. Ah, se você soubesse como a saudade e a culpa me torturaram por esses anos e como eu nunca consegui te tirar de mim.
Entrei na padaria e, ao perceber que o antigo dono ainda encontrava-se ali do mesmo jeitinho, cuidando do caixa e com aquele lápis atrás da orelha, eu sorri.
- Um café meio amargo, por favor, seu Joaquim.
- E um Halls, já sei - completou.
Enquanto esperava meu café percebi ali, quase que escondida no canto com seu café e pão de queijo, ela... Segurando a xícara com as duas mãos como de costume, olhava pra rua como se viajasse em pensamentos. Ajeitou o cabelo atras da orelha e vi que não havia perdido a mania de coçar a pontinha do nariz com os dedos. Neste momento aqueles olhos de mel cruzaram com os meus e eu inevitavelmente sorri. Timidamente ela sorri de volta, linda como sempre.
Meu Deus, era mesmo ela! Depois de tanto tempo ela estava ali, na minha frente. Não pensei duas vezes e me aproximei. Quase que imediatamente ela, desviando o olhar, cumprimentou-me e saiu.
Não tive tempo de falar que aquela blusa de lã ficou linda nela, não tive tempo de saber como ela estava.
Lembrava-me bem das palavras duras que usei pra justificar nossa separação, sabia que havia sido duro demais naquela noite... Eu sabia o que tinha feito. Mas ela não sabia, não sabia que eu havia me arrependido logo na manhã seguinte, não sabia que eu ainda a amava como 5 anos atrás, e não sabia que fui atrás dela naquela rodoviária, mas o ônibus já havia partido. Partido com ela, e partido meu coração, que sentiu a saudade dela bater por todos esses longos 5 anos. Eu havia errado, errado feio e deixado escapar a pessoa que eu mais amava. Não tive coragem de chamá-la, não me sentia no direito de remexer nisso tudo outra vez.
Mais uma vez deixei você ir embora daquela padaria, fui covarde, tive medo. Quem dera eu pudesse te dizer o quanto você ainda mora em mim, o quanto ainda sou teu. Talvez você nem queira saber, mas confesso que o peso do meu erro ainda dói, ainda dói muito porque em mim aquele nosso amor ainda não morreu.

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8 comentários

  1. Amei o texto Tha, simplesmente lindo e encantador, você e Nathalia estão de parabéns!

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  2. Thales eu comentei no blog da Nathalia, e vou comentar aqui de novo, porque gostei demais haha. Adorei o projeto de vocês, e amaneira linda como expressaram os dois lados da história, gostei especialmente de como tudo ficou com um ar de inacabado no final, me deu uma vontade de saber o que poderia acontecer com esses dois... Enfim, parabéns pelo belo texto! Beijos
    Desfocando Ideias

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    1. Oi Natalia, quem sabe não rola mais uns textos ai. Foi uma experiencia legal espero escrever mais vezes assim e com outras pessoas também :)

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  3. Achei que essa ideia de junção não fosse dar certo haha, mas ficou muito bom. Vocês dois escrevem super bem, como disse no blog da Nathalia, então ficou um ótimo texto ♥

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    1. Olha só rsrs não botava fé na gente rsrs Obrigado Kell confesso que achei que não conseguiria chegar ao nível da Nathalia pra escrever não rsrs mas até que deu mesmo certo ^^

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  4. Gente, estou in love com esse conto! <3 Muito lindo, encaixou super bem! Parabéns pra vocês, viu!? Ansiosa pelos próximos, vai ter né?! haha' Ficou muito bom, mesmo! :*

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    1. Oi Ana, poxa muito obrigado. Estamos trabalhando a possibilidade de continuação sim :)

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