De onde vem a calma.

21:38


E da janela do meu quarto, vejo pessoas a caminhar na rua e ao avistar aquele senhor caminhando inevitavelmente pensei "De onde vem a calma daquele cara?". "Qual a sua historia? "Por onde e o que ele viveu?" Será que é João, José talvez que seja, será que esse José tem filhos? Será que tem esposa? Será que ele esta voltando do trabalho, onde passa horas e horas pra no fim do mês ganhar o suficiente pra comer somente, e vai chegar em casa cansado, mau vai dar atenção a família, vai sentar-se a mesa pra jantar e por falta de paciência com seu filho mais velho começar a brigar. 

Ele não sabe ser melhor, viu?A vida lhe castiga, lhe pesa ele só sabe ser isso, talvez por que tenha se transformado nisso, talvez a vida tenha sido dura demais com José. Como não entende de ser valente? Que medo ele tem de mudar seu rumo, ser dono do mundo do seu destino? Ele não sabe ser mais viril, ele não sabe não, viu? Tão cansado da vida que leva, do peso que carrega sozinho nas costas que deixou de ser o homem José.



Às vezes dá como um frio, duro e seco ele se faz pra que a vida não lhe castigue mais. Será José tão insensível ou é o mundo que anda hostil. O mundo todo é hostil, tão cruel, tão impiedoso com quem não vê maldade. E então olhando pra esse João ou talvez José na rua eu penso, "De onde vem o jeito tão sem defeito? Que esse rapaz consegue fingir ". Pra que fingir José, pra que deixar de ser você, viva José, a vida não é de um todo ruim, ainda há muito por vir.

Saio da Janela e vou pra frente do espelho, olho pra essa cara cansada de um dia de trabalho, procuro em mim talvez vestígios daquele José que acabara de ver a caminhar na rua.  - Mas que merda é essa que eu to pensando, que besteira Thales! Sorrio me achando um  tolo. Olha esse sorriso tão indeciso, tão forçado mostrando uma disposição e alegria que não tem, a quem você quer enganar, o que você esta fazendo? Tá se exibindo pra solidão, solidão que de um jeito ou de outro sempre te persegue, te rodeia, te acompanha. É estanho mas em todas as fases da minha vida uma hora ou outra eu me vejo, sozinho. 

Não, Calma! Não vão embora daqui, não sou tão ruim assim, eu sei ser boa companhia, sei conversar, sei ouvir. Eu sou o que vocês são, sou humano, erro, acerto, dou o meu melhor, faço papel de babaca, choro atoa, não vão. Não solta da minha mão...Não solta da minha mão.

Eu não vou mudar, não eu sou assim, todo torto, errado, humano e nada perfeito. Não é fácil eu sei, eu tenho que lutar com meus defeitos todos os dias, mas eu vou ficar são. Eu vou conseguir, não vou ser João ou talvez José. Mesmo se for só, mesmo na solidão, eu vou conseguir, eu vou ficar são.
Não vou ceder, as dores já nem me incomodam mais, já fazem parte de mim. 

Deus vai dar aval sim, pra que esse sorriso seja de fato verdadeiro, pra que ele venha refletir minha alma e não enganar minhas dores, mal vai ter fim dentro de mim. E no final, assim, calado como sempre fui, preferindo escrever ao falar o que sinto. No final, assim mesmo que não tão amado, eu sei que vou ser coroado, rei de mim.



PS:Sempre gostei demais dessa música dos Los Hermanos e esses dias ouvindo a mesma pelo caminho do trabalho senti vontade de escrever, trabalhar um texto em cima da letra. Até que saiu algo, me senti em uma aula de português. Espero que tenham gostado.

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3 comentários

  1. Achei o máximo o que fez com a música.
    Achei melhor ainda a forma em que se encaixou nela.
    Aos poucos e às vezes você dá uma brecha e mostra um pouco de transparência, que claro, nem todos devem perceber, ou lêem por alto apenas.
    Você é ótimo em escrever entrelinhas...
    Beijos <3

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    1. Ficou legal né?! Eu também gostei, gosto de brincar com as palavras assim. :)

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  2. Nossa, ficou excelente seu texto

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